30 novembro, 2023

O LAGO



O sonhador, parado em uma encosta – como se fosse quase no topo de um planalto, mas ao mesmo tempo não muito longe do chão –, direcionou o olhar abaixo e para trás de si e viu um grande e profundo lago de águas cristalinas. Ficou muito admirado, a estranhar o objeto de sua observação: a água daquele lago estendia-se para cima da altura que deveria ter o seu nível, quase chegando ao ponto onde o observador se encontrava, sem que se espalhasse nem tampouco escorresse para nenhum lado, assim como uma gelatina fora da forma que a deu forma.  Fitando fixa e atentamente a imagem supra, mas que em relação ao ponto de observação era ligeiramente inferior, o homem, como a aperceber-se n’um transe, ficou perplexo!

Contudo, as estranhezas continuariam a surgir! Ao olhar à parte direita do lago, cristalino que era, o cismador pensou ter visto dento d’água, em pé no solo altamente submerso, dois homens interagindo entre si. Eles o notaram, encararam-no por alguns instantes, mas logo puseram-se a correr em direção a uma enorme parede de pedra, à semelhança de uma esquina, de modo que saíram do campo de visão observável.

Depois dessas coisas, outra cena se apresentou diante dos olhos do concentrado espectador, cena esta também submersa: um senhor idoso caminhava naturalmente (a semelhança dos outros dois), aparentemente desolado, com o olhar perdido ou indeciso, a fumar um charuto. Não se deu conta de que era assistido do “mundo superior”, nem sequer olhou naquela direção.

Em seguida, o sonhador viu um quarto homem, desta vez com a água até a cintura, saindo em direção à praia deserta que encerrava a parte da água vertical. Ele estava vindo de dentro do lago a empurrar uma bicicleta, era conhecido de longa data do homem que o observava, o qual o interrogou: “Você viu como esta água está alta?” – “Sim, mas não fui só eu quem fez isso!” – respondeu o ciclista.

28 novembro, 2023

AUTORRETRATO

N’um grande salão

Em exposição

Tantas telas,

Peças raras

 

Cada cidadão

Olha a composição

Todavia não vê

O que está às claras

 

O teu autorretrato

Estava meio apagado

Eu quis redesenhar-te,

Ressignificar-te

 

Mas quem sou eu

Para querer mudar

A forma que tu assumes

Quando longe de mim estás?


Eu sou maré

Que se expande e se retrai

Eu sou alguém que nem tu,

Que és fiel e também trais...


AUTORRETRATO 👩 ♫ 🎝 ♫ 🎝

Composição, voz e violões: Tony Sales

Produção audiovisual: Rafael Brandão 

         Local de gravação: Parada/Taíba – SGA/CE        

27 novembro, 2023

A MESMA LUZ

 

A mesma luz

Que aquece o ar arrefece

Que ilumina o breu culmina

Que envaidece o ser envelhece

Que ensina o mal combina

 

A mesma fogueira

Que reúne se espalha impune

Que brilha o assoalho faz o borralho

Que assa a batata logo a despedaça

Que o escuro tinge o espaço atinge

 

Milhões de partículas de fuligem

Flutuando, os insetos atentam

Qual chuva de verão de origem

Asas de mariposas as alimentam

 

Azar da natureza que abriga

O horror da natureza humana

Que queima da terra a barriga

O odor de uma ação insana!


Fótons 💥💥💥♫♫♫




Composição, voz e violão: Tony Sales
Produção audiovisual: Rafael Brandão
Local: Área verde - Parada, São Gonçalo do Amarante - CE

26 novembro, 2023

O AR EM MOVIMENTO

 

Jardim Botânico SGA/CE. Vídeo: Tony Sales.

O Vento houve-se havendo em existência similar à dos seres pensantes... à crise que afeta de tais seres uma parcela. Percebeu-se a sentir. Descrevendo-se a si, delineia os caminhos que percorre. Entende-se como sendo o algo que passa e é levado por ele mesmo, tal qual o éter que move e mantém a tudo no espaço, invisível.

Está presente e não é visto, fazendo-se perceber por meio de uivos e assovios, de sopros, ora suaves, ora tremendos! Quando calmo é brisa, quando agitado faz-se incontrolável a errar a esmo ou a girar em torno de um eixo, a traçar rotas imprecisas...; entregue à própria sorte, chora, esvoaça e grita, para a desventura das árvores frágeis, ressequidas, de galhos envergáveis, quebradiças!

Ao passar pelos prados e campos, como em ritual reverência, deitam do capim ao arbusto – “que susto!”; pelos centros urbanos, visão de assombro: vidraças, vitrines, para-brisas, espelhos viram açúcar de confeiteiro, cobertura de coco no asfalto brigadeiro.

O Vento, ainda assim, aparentemente, acode ao senso comum que defende o direito de ser como é; mais que isso, o dever de poder ser assim mesmo do jeito natural a que veio ao mundo sensível: aparência que não se molda, “um modelo diferentemente igual”, sem forma, a transportar partículas cinza a que se reputa por poeira!

De poeira em poeira, a empurrar a areia, separa os terrenos das águas, ergue morros e os rodeia... Toda a terra é o itinerário deste elemento... Vive de rodeá-la... Sua existência é o seu movimento, indo e vindo, sempre assim, a sorrir ou a “sufrir”: a buscar aonde ir!

                                                            O VENTO 🎝 🎜 💨


Composição, voz e violões: Tony Sales
Produção audiovisual: Rafael Brandão
Vídeo base: Render Forest
Disponível em: www.renderforest.com

A ÁGUA

Lagoa da Prejubaca - SGA/CE

A água, enquanto passa, rega

O canto, enquanto ouvido, é prenda

O regato, enquanto visto, encanta

Na procura dos porquês há venda


Correntezas por córregos já foram

Várias chuvas que sequer se viram

Torrenciais tocam a terra e se douram

Em cataratas, quedas d’água se retiram


Qual grandes chuvas, cachoeiras borbulham

E meu olhar acompanha o aguaceiro,

Como se fora anti-horário o movimento,

A subir do solo em direção ao firmamento!

 

 

Registro de música autoral online, por Tony Sales

Registro de música autoral online, por Tony Sales